Apetece-me ser o bêbado ao fundo do balcão a beber mais uma cerveja ao fim do dia. Apetece-me ser o voyer que segue pela noite em busca de uma janela com estore ou cortinado entreaberto. O vagabundo que numa esquina luta contra o frio, com o único cobertor que alguém caridosamente lhe ofereceu. O porteiro de um qualquer prédio que durante a noite desespera por alguém, que entre ou saia por aquela porta, na esperança de um "Boa-Noite" mesmo que sem intenção. No limite, a ossada perdida numa vala comum esquecida no eterno anonimato. Sempre tudo numa solidão tão própria como só a solidão pode ser. De passar em qualquer lado ou por alguém que olha para nós e não nos vê, ouve mas não escuta, toca mas não sente. Sem sentido(s).
Apetece-me tudo menos qualquer destas coisas, mas também não me apetece pensar nem sentir o que por esta hora passo.
Esquecer o inesquecível que é não ser lembrado.
Por isso, vou procurar fazer coisas de que gosto, na esperança da fuga e alienação pelo esquecimento. Como o drogado que procura mais uma dose, mas ao contrário.
Porque me apetece viver, mesmo que seja menos mal, mas viver em paz comigo mesmo.